A rápida ascensão da Inteligência Artificial (IA) trouxe um aumento exponencial na necessidade de computação – e, com isso, um apetite energético sem precedentes. Treinar modelos de machine learning de grande porte e alimentar bilhões de inferências diárias exige quantidades massivas de eletricidade. Esse fenômeno já levanta preocupações sobre sustentabilidade e capacidade de suprimento energético.
Por outro lado, cria oportunidades estratégicas para países com abundância de fontes limpas. Neste contexto, o Brasil – com uma matriz elétrica predominantemente renovável – destaca-se como um potencial provedor de energia verde para essa nova era. Em especial, a energia eólica offshore surge como uma alternativa promissora para atender de forma limpa a demanda elétrica impulsionada pela IA.
Este artigo analisa o consumo atual e projetado de energia pelaIA, o potencial eólico offshore do Brasil, a dimensão geopolítica da corrida pela IA entre EUA e China, e avalia como o Brasil pode, estratégica e competitivamente, suprir parte dessa demanda e se posicionar no futuro energético global alimentado por IA.
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– Thomas Merton
Consumo energético pela IA
Atualmente, os data centers já respondem por cerca de 2% do consumo global de eletricidade, podendo chegar a 7% até 2030 devido à expansão da IA. O treinamento de um único modelo de IA avançado pode emitir até 500 toneladas de CO₂, destacando a necessidade urgente de matrizes energéticas sustentáveis.
Os EUA e a China, líderes globais na adoção de IA, enfrentam desafios significativos. Nos EUA, apesar dos investimentos massivos em tecnologia, aproximadamente 56% da eletricidade usada em data centers ainda provém de fontes fósseis. Na China, apesar do enorme avanço em IA, a predominância do carvão gera impactos ambientais preocupantes.
Oportunidade única
O Brasil possui um extraordinário potencial técnico para geração de energia eólica offshore estimado em cerca de 1,2 TW, mais de quatro vezes sua capacidade instalada atual. Projetos que somam mais de 234 GW já estão em processo de licenciamento. A recente aprovação do Marco Legal da Energia Eólica Offshore impulsiona ainda mais esse cenário, oferecendo segurança jurídica e atraindo investimentos internacionais robustos.
Grandes multinacionais como Equinor, Petrobras, Neoenergia e Ocean Winds já estão posicionadas com projetos estratégicos ao longo da costa brasileira. Essas iniciativas sinalizam claramente o interesse internacional e a viabilidade econômica e técnica desta oportunidade única.
IA no centro da disputa geopolítica
A liderança na IA tornou-se central na disputa geopolítica entre EUA e China, envolvendo não apenas tecnologia, mas também energia e infraestrutura. Os EUA apostam em investimentos privados maciços e incentivos públicos recentes para renováveis e semicondutores avançados. A China adota uma estratégia integrada, construindo mega centros de dados em regiões de energia mais limpa e implementando políticas agressivas para garantir eficiência energética e autossuficiência tecnológica.
Nesse contexto, o Brasil se apresenta como um parceiro estratégico neutro e confiável. Com sua matriz predominantemente renovável, o país oferece uma solução imediata e sustentável ao dilema energético enfrentado por essas potências.
Oportunidades para o Brasil: Uma visão estratégica integrada
O Brasil reúne condições ideais para transformar esse potencial em realidade:
- Capacidade Técnica: Aproveitamento da expertise nacional adquirida em petróleo offshore e energias renováveis para implementação dos projetos eólicos marítimos.
- Ambiente Regulatória Favorável: Marco regulatório claro e políticas de incentivos fiscais podem acelerar a atração de investimentos.
- Financiamento Disponível: Interesse comprovado de capital internacional combinado a instrumentos financeiros inovadores como títulos verdes e fundos climáticos internacionais.
- Infraestrutura Preparada: Desenvolvimento coordenado de portos e redes elétricas para viabilizar a conexão dos futuros parques eólicos offshore à rede nacional e internacional.
O futuro
No horizonte das próximas décadas, com o crescimento da demanda energética pela IA, o Brasil pode se posicionar como líder global na produção e exportação de energia renovável. Além de atender ao mercado interno, pode tornar-se um hub internacional de data centers sustentáveis e um exportador estratégico de hidrogênio verde.
A cooperação entre iniciativa privada e pública será essencial para transformar esses projetos em realidade. Investidores, empresários e gestores públicos têm diante de si uma oportunidade histórica de impulsionar a economia brasileira, reforçando sua posição geopolítica enquanto contribuem decisivamente para um futuro sustentável e inovador.
A demanda energética crescente provocada pela IA não é apenas um desafio, mas uma imensa oportunidade. Com sua matriz limpa e capacidade de expansão eólica offshore, o Brasil tem tudo para ser um protagonista nesta nova era, criando valor econômico, estratégico e ambiental. Chegou o momento de unir forças entre o setor público, privado e investidores para aproveitar essa oportunidade singular e projetar o Brasil como uma potência energética verde do futuro.
